terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Quase Nada!

Da penteadeira, do pente nem da mão que o manipulou.

Do cabelo que o pente penteou.

Do riso refletido no espelho,

Quando viu o penteado do cabelo vermelho.

Nem a tinta, nem pincel, foi pros ares todo o bordel.

Batons carmesins, espartilhos, plumas, luvas, cigarrilhas.

Perucas, chapéus e presilhas.

Uma chuva de adornos, cheirando forte e de estranhos contornos.

Tampas de privada, colchões king size, cortinas de seda javanesa.

Um grande buraco no chão,

E um outro igualmente grandão no coração de quem escapou da explosão.

Quase nada restou, na verdade só lembranças.

Lembranças das gargalhadas de Odete.

Do rosto bem desenhado da estudante de direito.

Do falar meio sem jeito de Rosalina, Rosa menina.

Do corpo da Bombom, como era bom, como era bom!

Dizem que foi o bujão de gás,

Outros falam que foi o ciúme do Tomás.

Não sei ao certo o que foi não,

Só sei que retirou daqui do chão,

O castelo que realizava sonhos,

As moças que ao mesmo preço atendiam Sr. Barão e os Tonhos.

O cabaré da rua da Aurora voou pelos ares do Recife.

Deixando pra traz suas histórias.

Doces memórias,

Suzes, Ritas, Saletes e Auroras.

Recebam flores in memorian,

Tragos de um rum ardente desce por nossas enviuvadas goelas.

Lágrimas de machinhos traídos despencam do nosso olhar perdido.

Somos pálidos donos de casa sem a diversão que nos consolava.

Choramos as nossas putas em desesperos e berros, bebedeira e agonia.

Maldito bujão de gás ou esse bosta desse Tomás!

Onde iremos cheirar pescoços vadios?

Gozar em lençóis tão macios?

Não existe mais escape.

Nem Filó roçando no mastro, num misto de número circense e provocação parisiense.

Mais rum cortante, lágrima que rola constante.

Fossa profunda porque pelos ares estão,

Toda a nossa diversão.

Fragmentadas voam as xoxotas que embalaram as nossas madrugadas.

Nunca mais seremos os mesmos.

Nunca mais nada será nada!