A gente muda que é pra vida mudar. E quando a vida muda, bate uma saudade danada da vida que a gente acabou de abandonar.
E eu tava bem assim; me sentindo muito só. Bem longe de tudo aquilo que eu entendia ser a minha vida. Viagens, avião, bus, trem, correria e depois de oito dias mar adentro eu fui parar.
A não sei quantos graus de latitude não sei da onde, olho pro céu e me espanto. São estrelas, planetas, cometas, astros e eu aqui ainda me sentindo muito só.
O vento cortava a ilha ao meio balançando as folhas e agitando o mar. Meu ouvido, sempre atento e amigo distinguiu que lá de longe vinha um som dum Birimbá.
Pernada pra lá, pernada pra cá.
Meia lua, martelo, caxixi e jogos de brincar.
E o birimbau?
Ah, esse quando canta "invade minha alma!"
Encontrei uma turma boa. Percussão poderosa, alegria vigorosa e a capoeira como novo amor.
Conheci os mestres sem cordas, os professores sem títulos, os sábios sem estudos. Bebi dessa fonte que rola simplicidade e simpatia.
Joguei feito um menino folia. Alegria, alegria aportou em meu coração que dá dentro do meu peito mortais de euforia quando a baqueta bate no cordão.
Reconheci naquela roda meu amigo Ronald que com sorriso sempre me recebeu. E incansável me ensinou a lidar com o dobrão.
Cabaça na barriga trás o som do coração!
E esse garoto levado lá de Igarassu vai levando pra capoeira o Tom, o Jerry, a mim e vai levar também tu.
Naquela noite ao sair daquela roda em minha cabeça rodava: "Roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda pião, o tempo rodou num instante nas voltas do meu coração"
E a vida que eu queria que mudasse de fato mudou.
Saudade da velha não tenho mais.
Capoeira tu és meu novo amor!