É engraçado e ao mesmo tempo assustador quando a base do pensamento social é desafiada e ameaçada. Quando a estrutura onde está lastreada a nossa cultura sofre fissuras e vira alvo de discussões que requerem um pensamento um pouco mais elaborado.
Como sociedade é difícil, estranho, desafiador entender um ser humano que tem seus cromossomos XXY, ou seja, um terceiro sexo. E pra essa pessoa então, como será?
Essa forma padronizada de ver a vida dividida entre homens e mulheres é frágil e é apenas um dos equívocos que praticamos diariamente de forma coletiva.
Alguém que se vê preso num corpo hibrido e logo assim privado de desfrutar com liberdade o seu sexo arranca de nós espanto, medo e infelizmente quase nunca respeito. E a gente insiste em seguir as nossas vidinhas “normais” virando as páginas dos jornais e mudando de canal a cada assunto que nos incomoda.
Quando eu era proprietário de um bar, tive momentos de muita alegria e crescimento servindo cachaça no meu balcão/divã pra muito “tipo estranho” por assim dizer e ouvi confissões que deixariam qualquer padre morrendo de inveja.
- Um marido que saia a noite pra beber usando a calcinha da esposa. (por baixo das calças é claro).
- Uma “sapatão” que não entendia aquela caixa (corpo) que prendia sua alma de menino viril. Sobrava peitos, faltava algo entre as pernas... Dizia ela entre goles e lágrimas.
- Dois amigos que namoravam duas irmãs e que depois de sair da casa das namoradas o namoro continuava entre eles.
- Uma anãzinha de 50 e poucos centímetros fervendo de paixão e tesão, agarrada a uma tulipa de chope que era a metade dela inteira. Preciso transar cara, mas, ninguém me quer! E bebia um pouco mais a minha miúda amiga, flamejando como uma tocha... Tucha! Dizia seus olhos desejosos.
Pra mim a discussão não é se a atleta Semenya merece ou não a medalha que conquistou, embora isso seja legitimo. É na verdade aceitarmos o fato de que a gente não tem a menor idéia de quem somos.