quarta-feira, 14 de outubro de 2009

"Maravilhoso" Mundo Novo!


O fogo crepitava a nossa frente. O Paulo se contorcia arrancando de seu violão tudo o que o instrumento podia dar. Ele é bom músico, mas, também gosta de impressionar. Há quem diga que se não fosse assim, de músico ninguém poderia o chamar.
Sim, claro tinham as estrelas e tudo o mais que um ambiente bucólico tem pra oferecer. Entramos com as bebidas quentes, o furor da nossa juventude e altas taxas de libido, se é que a libido se mede em taxas.
As canções iam do rock ao mela cueca e cuecas meladas sobravam naquela praia, naquele verão intitulado o verão do tesão. Mas, qual verão não é do tesão, não é mesmo?
Garotas classe média alta, douradas, esculpidas, sedentas. Voluptuosas, charmosas, deliciosas completavam a cadeia alimentar do lugar. Naquela época ainda acreditávamos ser o topo dessa cadeia. É a juventude tem enganos que vistos hoje parecem bizarros.
Celulares não existiam (xiiii me entreguei). Logo, a patrulha dos pais era menor.
Faz tempo, muito tempo e aquilo pra gente era viver. Quem era o presidente? Senador do nosso estado? O prefeito daquele lugar? Muitos de nós não sabia nem mesmo onde estava e essas perguntas não faziam parte do nosso restrito ciclo de interesses.
Éramos do tipo que lutávamos contra o sistema mesmo sem saber defini-lo. Se hay governo, soy contra! Esse era o nosso lema. Pelo menos tínhamos um. E isso naquela época era fundamental, arranje uma turma, um lema e seja feliz.
Gastávamos os nossos dias de casa em casa, algumas mães eram maneiríssimas e nos acolhiam com seus sanduíches e refrigerantes, conselhos, sorrisos e até cigarros. Outras eram puro radicalismo educacional. Corrigiam o nosso trôpego português, queriam saber o que significam as nossas gírias pra logo em seguida recriminá-las sem dó. Nos olhavam com desconfiança e definitivamente não éramos boas companhias para os anjinhos de seus filhos.
Éramos folgados, descarados e glutões. Flatulentos, um pouco sujos e absolutamente certos de que transformaríamos aquela merda de mundo em que vivíamos num lugar mega bacana. Se existia algo do que aquele mundo precisava era certamente da nossa galera.
CORTA PRO PRESENTE.
Eu era uma piada, não é mesmo?!
Mas, pelo menos naquela época eu tinha uma galera e umas idéias que me faziam seguir em frente.
Quando tudo isso se perdeu?
No dia em que acreditei que ser adulto era ser igual aquelas mães que nos reprimiam. No dia que passei a ver aquele outro grupo de mães como pessoas frágeis, sem pulso, crianças presas em corpo de adultos.
Faz pouco tempo que descobri que daquela minha primeira galera só estou vivo eu e o Alex que continua no Rio. O resto e não eram poucos, tombaram ao longo do caminho. Um a um como é o final de todos, inclusive o Paulo e seu violão. Mas, alguns foram cedo demais sem ao menos ver no que se transformou o nosso novo “maravilhoso” mundo. Sorte ou azar o deles? Pergunta difícil essa.

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